Supergolden é o álbum de estreia do contrabaixista e compositor Petter Asbjørnsen, que aqui se apresenta com o trio Pat, formado em conjunto com o saxofonista Kjetil Møster e o baterista Øyvind Skarbø. Møster e Skarbø são proeminentes figuras da cena jazz norueguesa, conhecidos por projectos como Zanussi 5, 1982, Skarbø Skulekorps, Møster! e a Trondheim Jazz Orchestra (orquestra em que também participa a trompetista portuguesa Susana Santos Silva). Já Asbjørnsen - que tem o seu nome associado a projectos e músicos como Molecules + Erlend Skomsvoll, Thomas Dahl, Elias Stemseder, Emilio Gordoa, Dag Magnus, Narvesen e Axel Dörner -, apresenta-se em Supergolden como líder de banda, este que é um disco quente, em pleno contraste com a fria cidade de Bergen, berço do trio e local de gravação do disco, onde Asbjørnsen tem um papel activo na comunidade de músicos.

Supergolden é um disco interseccional, com influências que vão do tradicional bebop à improvisação livre e não idiomática. Assim, não sendo um trabalho de puro free jazz, tem, amiúde, interessantes momentos de improvisação totalmente livre que despoletam das linhas melódicas e estruturas rítmicas das suas composições. Ademais, é interessante a notória intencionalidade de intercalar conjuntos de enérgicas e vigorosas composições, criadoras de ímpeto e tensão, com temas reflexivos e contemplativos, que dão espaço e tempo ao ouvinte: uma estrutura que confere um atractivo e dinâmico carácter de narrativa prosaica ao álbum.

“Heritage” funciona como uma chamada de atenção, com o trio, ainda a meio gás, a preparar terreno, focando-se no motivo melódico que tanto inicia como termina o tema, intercalado por uma improvisação colectiva, ora explosiva e tempestuosa, ora calculista e delicada. “Creel” eleva a parada, com uma sonoridade reminiscente do período avant-garde de Albert Ayler. “Driftwood” é uma composição textural, onde a musicalidade é retida pela intervenção de Møster. “Warehouse” segue a mesma linha igualmente distante e reservada. O tema homónimo, “Supergolden”, e o seu sucessor, “Scheme”, recuperam em crueza, dinamismo e improvisação a energia potencial acumulada nas duas anteriores composições. “Riot” é um exemplo da tradição bebop a que o trio também recorre, com a secção rítmica a swingar a base que permite que o saxofone leve avante o seu motim através da modelação de um discurso livre e efusivo. Em “Paternity” é retomada a premissa textural presente em temas como “Driftwood” ou “Warehouse”. Por fim, o álbum termina com “Mildly Frazzled”, um tema em aberto, como que uma mensagem de que, por agora, o trabalho está feito - mais, no futuro, virá.

Supergolden, sem ser disruptivo dos cânones, é um álbum bastante consistente e que engloba ecléticas influências de vários géneros do domínio jazzístico. Com interpretações de elevada qualidade que o tornam um prazer de se ouvir, este é, portanto, uma excelente estreia para Petter Asbjørnsen e para os Pat.