
Neste seu álbum de estreia como líder de banda - Proxemic Studies: Volume I -, o guitarrista canadiano Mike McCormick, residente em Oslo, apresenta um conjuntos de temas que exploram várias manifestações do seu lado mais íntimo e pessoal. Interessantemente, a produção do disco está envolta numa curiosa história que envolveu, inicialmente, a criação, por parte de McCormick, dum conjunto de estudos técnicos para guitarra eléctrica - usados como forma de ultrapassar as suas limitações performativas -, que, posteriormente, foram mesclados com textos de cartas, e-mails e mensagens, por ele guardadas e que haviam sido enviadas a pessoas com quem teve relações amorosas. Este é, portanto, um disco profundamente íntimo e introspectivo, atmosférico e emotivo, onde o guitarrista examina os “espaços” emocionais criados na sua vida juntamente com Laura Swankey na voz, Emily Denison no trompete, e Knut Kvifte Nesheim na bateria e vibrafone.
De natureza pessoal e introspectiva, Proxemic Studies: Volume I pode ser visto na perspectiva de uma viagem pelos meandros do leque de emoções primárias - o medo, a tristeza, a raiva, o nojo, a surpresa e a alegria -, que nós, seres humanos, experienciamos ao longo da nossa vivência. Em notas de apresentação, denota-se que as composições “são reflexões intensamente pessoais sobre a intimidade humana que descreve a beleza descarada do amor incondicional, a amargura do coração partido, e a volatilidade da paixão.” Assim, Proxemic Studies: Volume I é toda uma exploração da emocionalidade humana, que é aqui coberta por um manto de beleza poética, onde se sentem elementos de rock - ouça-se, por exemplo, “Madness”, o tema mais agressivo do disco, onde sentimos a revolta que surge com a mentira -, e onde, prevalentemente, o jazz se mistura com a música contemporânea para formar uma densamente emotiva estética sonora. Uma menção especial vai para o tema “Alvorada” que, com um título tão português, pinta um calmo despertar: o erguer da húmida e opaca neblina - símbolo do mistério e da inconsciência - gradualmente substituída pelo fosforescente sol matinal - símbolo de vida e potência -, que nos dá força para enfrentarmos as surpresas e as ansiedades que o dia nos trará.
Proxemic Studies: Volume I é uma curiosa obra, cabalmente criativa e original, resultado dum processo de composição pouco convencional e ortodoxo, e que apresenta uma interessante narrativa que prova que mesmo rotinas que são, à partida, tão vulgares e monótonas como exercícios técnicos para guitarra, podem servir de base à criação artística e musical, quando fundidos com memórias de densidade emocional elevada. Uma lição a reter.