
Tranceportation vol. 2 marca mais uma paragem no percurso da banda suíça Sonar - constituída por Stephan Thelen (guitarra), Bernhard Wagner (guitarra), Christian Kuntner (baixo) e Manuel Pasquinelli (bateria e percussão) - que aqui se junta, novamente, ao guitarrista David Torn para dar continuação à senda iniciada no anterior volume. Esta é uma colaboração que se tem revelado interessante devido ao facto de Torn adicionar uma variável livre à estruturada e matemática sonoridade dos Sonar.
A estrutura composicional de Tranceportation vol. 2 é complexa, desenvolvendo-se por paisagens que claramente vão beber ao metal progressivo e que, aqui, se adornam de uma aura espacial, formando um álbum altamente lógico e cerebral, como se de um complexo puzzle se tratasse em que, apesar da inerente dificuldade à sua resolução, todas as peças, quando unidas correctamente, encaixam com suavidade e naturalidade. A sonoridade do grupo é, regra geral, límpida e cristalina, uma estética que realça todo e qualquer detalhe por eles tocado e que foi uma abordagem já tida no anterior volume. Ademais, os compassos são complexos e rigorosamente definidos pela mecanicidade semi-industrial da percussão; o baixo é groovy e redondo; as guitarras entrelaçam-se em camadas que sustentam melodicamente os temas.
Estruturalmente as composições de Tranceportation vol. 2 evoluem da forma que seria expectável numa sonoridade tradicionalmente progressiva: os trítonos debitados pelas guitarras de Thelen e Wagner criam dissonância e tensão, formando camadas que se sobrepõem e justapõem para tecer narrativas que exploram motivos melódicos e estruturas rítmicas. A interacção entre Pasquinelli e Kuntner, para além dos óbvios propósitos de suporte, é prolífica em gerar dinâmicas polirrítmicas. Torn é o elemento mais livre de todo o grupo, quer aventurando-se por solos individuais carregados de efeitos e distorção, quer juntando-se ao resto do grupo através de live looping. Já em termos de compassos e métricas, os temas são bastante diversificados: nalgumas faixas o grupo parecer saltar entre vários compassos (e.g., “Triskaidekaphilai”), ao passo que noutras entrega estruturas mais óbvias como, por exemplo, o compasso ternário composto de “Slowburn”.
Tranceportation vol. 2 é um álbum ideal para amantes de Tool ou da sonoridade que o Devin Townsend Project propõe em Ki. Para o escutar, nada melhor que seguir as sugestões de Thelen que nos recomenda a ”encontrar uma cadeira confortável e uns bons auscultadores, fechar os olhos e partir para a viagem.”