Javier Subatin é um guitarrista e compositor argentino, actualmente residente em Lisboa, que está totalmente integrado na comunidade de jazz portuguesa através da qual já estabeleceu relações musicalmente frutíferas com diversos artistas nacionais. Ademais, além de músico, é também fundador e director artístico do CI Community Project, uma louvável iniciativa que reúne músicos independentes de várias nacionalidades que produzem conteúdo para os subscritores da sua comunidade no Patreon. Em termos discográficos, em Março deste ano lançou Variaciones, sucessor do seu álbum de estreia, Autotelic, lançado em Maio de 2018. Autotelic é composto por temas que Subatin escreveu após ter conhecido o pianista João Paulo Esteves da Silva, músico com quem formou o duo que serviu de núcleo ao álbum e ao qual se viriam a juntar vários convidados: Desidério Lázaro no saxofone tenor, André Rosinha no contrabaixo, e Diogo Alexandre na bateria. Assim, consoante a necessidade, este grupo interpretou os temas de Autotelic, ora em trio, ora em quarteto, resultando num sólido trabalho de estreia. Já neste Variaciones, os integrantes do quinteto que permitiram que Subatin explorasse “de uma forma mais completa as possibilidades de orquestração, improvisação e música escrita” não diferiram substancialmente dos músicos de Autotelic, com a excepção do nome de Pedro Moreira que, aqui, assumiu o comando do saxofone tenor.

Variaciones começa com “Solo”, um tema onde harmoniosos entrelaçamentos entre o piano, a guitarra e o saxofone definem o ambiente que nos espera ao longo desta viagem. “Prelude” complexifica-se à medida que evolui através das várias camadas de arranjos que emergem à volta do principal motivo melódico. A narrativa torna-se, assim, progressivamente mais intrincada, com os elementos do quinteto a juntarem-se, à vez, ora em uníssono, ora em contraponto, à caminhada iniciada pela guitarra, adicionando-lhe dimensões extra. Em “Variaciones#1” sentimos a tropicalidade do continente de origem do argentino num tema cheio de cor e balanço, provavelmente o mais apelativo de todo o registo devido à sua leveza e vivacidade. Há ainda tempo para excelentes momentos de improvisação, com Subatin, Esteves da Silva e Moreira a discursarem em blocos separados, sempre apoiados pela sólida matriz formada por Rosinha e Alexandre. “Variaciones#2” contrasta a airosidade da anterior faixa com um ambiente mais destemido e directo. Esta é uma composição onde o saxofone de Moreira começa por ser o instrumento mais expressivo do quinteto, recorrendo às frases começadas pela guitarra, quer para as acompanhar ou terminar, quer para as usar como ponto de partida para as suas próprias incursões criativas, mecânica que acaba por degenerar num solo delicadamente embelezado por breves sussurros da guitarra; a esta dinâmica sucede-se um diálogo entre Subatin e Esteves da Silva, intimo mas receoso, que repõe a calma necessária para que o contrabaixo - sempre o mais discreto dos instrumentos, porém tão subtil como imprescindível! - tenha o seu momento de improvisação. O quinteto acaba, por fim, por regressar à ideia original, terminando assim mais uma variação. Já em “Variaciones#3”, uma peça construída sobre um compasso complexo, frases tocadas em homofonia são intercaladas por ataques da guitarra, com a bateria a destacar-se em impetuosas e pujantes intervenções.  A meio do tema escuta-se, ainda, uma bela investida de Esteves da Silva que, num estilo tão onírico como misterioso, remata o essencial; acaba por se lhe juntar Moreira, que indica aos companheiros a direcção do caminho de regresso a casa. “Variaciones#4” apresenta inicialmente uma melodia cheia de sensibilidade e emoção, como que preparando o terreno para a acelerada viagem que se lhe segue. Já a toda a velocidade, o trio piano-contrabaixo-bateria segura a voz da frenética e eloquente guitarra de Subatin que, no cume da montanha, protagoniza o momento que antecede a descida final. Por fim, o álbum termina com “Postlude”, uma composição onde o quinteto epiloga o trabalho de uma forma serena e contemplativa, estado de espírito que, após o sinal de partida - dado pelo dedilhado de Subatin -, se eleva ao longo da épica ascensão final, pondo termo a esta viagem.

Variaciones é um trabalho onde o jazz contemporâneo se mescla de uma forma única e peculiar com as influências pessoais de Subatin. A interessante estética sonora apresentada - sobretudo a fusão com os ritmos latino-americanos - é pouco comum no panorama nacional, sendo, por isso, um refrescante elemento a que Subatin recorre de forma hábil e bem-sucedida. Ademais, as interpretações do quinteto são excepcionais, tal como seria de esperar por parte do fantástico leque de músicos que o integra. É de referir, também, a notória evolução em termos composicionais que Subatin demonstra em relação a Autotelic, algo que nos aguça a curiosidade para escutar novos trabalhos do músico. Felizmente, não teremos de esperar muito por outro disco do guitarrista, que tem já outro álbum na manga, a ser lançado em Novembro pela ears&eyes Records… cá estaremos de ouvidos bem abertos para o escutar.