Gard Nilssen, prolífico baterista norueguês que, desde 2007, gravou mais de dezassete álbuns, apresentou em Abril deste ano “If You Listen Carefully The Music Is Yours”, o primeiro trabalho da Gard Nilssen’s Supersonic Orchestra, um ensemble composto por três bateristas, três contra-baixistas e uma secção de sopros com dez elementos. Gravado ao vivo no Molde International Jazz Festival em 2019, “If You Listen Carefully The Music Is Yours” foi composto e arranjado juntamente com o saxofonista André Roligheten, com o qual Nilssen partilha também a formação no projecto Acoustic Unity. Este é um álbum que, em termos de dimensão sonora, faz lembrar os trabalhos das orquestras de Sun Ra e Charles Mingus e no qual, segundo o baterista, “há muito espaço para os músicos improvisarem e serem livres [..]”. Antes de ouvirem este álbum segue uma nota de aviso: apertem os cintos e segurem-se porque a nave vai deslocar.

O álbum inicia-se com “Premium Processing Fee”, onde a orquestra prontamente se afirma com ímpeto, estrondo e veemência. Após esta abrupta entrada, há uma oscilação entre o caos e a ordem, oscilação essa que é conduzida pela secção rítmica e acompanhada por um diálogo constante entre os vários elementos da secção de sopros que se vão sobrepondo, justapondo e emergindo como que a saudar o ouvinte (ou o público, para ser mais preciso). Após atingido o apogeu, é o momento da dispersão: os sopros continuam a dialogar mas incongruente e independentemente, como gotas de água que, inicialmente juntas, se difundem agora aleatoriamente sem memória da sua ligação inicial. A estrutura é, então, recuperada em “Bøtteknott/Elastic Circle”, enérgica e dinâmica composição que apresenta uma cativante melodia que serve de ponto de ancoragem para a orquestra, que não se coíbe de a revisitar e reinterpretar a bel-prazer. Sem menosprezar os demais, este é talvez o mais interessante tema deste magnífico álbum, que termina num ambiente calmo e enternecedor. Contrastando com as composições anteriores que arrancam firmes e cheias de vigor, “Teppen Dance” começa com um tortuoso e exploratório solo de contra-baixo que desagua num deserto formado por paisagens espirituais sulcadas por linhas de saxofone. “City of Roses” segue a mesma linha - estamos no mesmo deserto, mas agora lado a lado com sons percussivos que nos anunciam a descoberta de um oásis, momento consumado de forma épica com o emergir da secção de sopros. Porém, rapidamente seguimos viagem e voltamos ao contra-baixo, sendo que, ao longo do caminho, outras regiões férteis em pleno deserto são descobertas, todavia de menor dimensão.  Em “Jack”, após uma introdução onde os vários contra-baixos se entrelaçam entre si, retomamos a premissa inicial do álbum e a orquestra volta a ganhar forma como um todo, retomando a sua aventurosa e enérgica exploração sónica. A despedida é feita em “Bytta bort kuya fikk fela igjen”, tema onde são notórias as influência do afrobeat, não fosse Nilssen fã da música de Fela Kuti.

Aventuroso, livre e desprendido de regras, “If You Listen Carefully The Music is Yours” é um exemplo estrondoso da dança perfeita entre os domínios da improvisação, estrutura e experimentação. Em suma, é um álbum essencial para amantes de big-bands e orquestras de jazz e que nos deixa com água na boca e vontade de ouvir mais.

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