
I’m alive!
Para todos aqueles que se questionaram sobre a minha prolongada inactividade no Beats for Peeps, trago boas notícias: estou vivo! Ou como cantaria Caetano: “I’m alive, vivo muito vivo feel the sound of music”. A verdade é que este hiato de aproximadamente um ano não se deveu a desinteresse ou desapego em relação a esta entidade abstracta chamada música que tanto me apaixona. Como se diz aqui pelas ilhas britânicas, life got in the way, e a minha disponibilidade para me dedicar com a regularidade a esta actividade foi sobremodo afectada por diversas circunstâncias. A história é longa, mas, resumidamente, desde Fevereiro de 2022, além de tentar sobreviver como um adulto normal, acabei um doutoramento, fiz um pós-doutoramento em Londres, e comecei um novo trabalho; vivi em Southampton, depois em Winchester, apenas para regressar novamente a Southampton, tendo saltado entre três apartamentos diferentes, o que implicou duas mudanças de casa (garanto-vos que transportar a minha colecção de discos e livros ainda será considerado desporto olímpico). E tudo isto aconteceu enquanto mantinha vários projectos pessoais em paralelo e tanta vida social quanto me era possível. Foi um ano difícil, com alguma instabilidade, mas o trabalho não mata e eu já estou mais do que habituado a sacrifícios neste domínio. Refira-se, contudo, que durante este tempo nunca parei de ouvir música, de a estudar, de estar atento às novidades e de revisitar pérolas do passado. No entanto, infelizmente, os meus trabalhos de escrita foram relegados para segundo plano. As minhas prioridades durante o último ano passaram sobretudo por encontrar o meu caminho depois de um percurso de mais de uma década enquanto estudante e investigador em várias universidades, e penso que finalmente consegui equilibrar as várias dimensões da minha vida. Agora que finalmente as águas acalmaram, resulta, pois claro, um obrigatório e tão desejado regresso à escrita, e principalmente à escrita sobre música, algo de que tenho imensas saudades. Para mim, a escrita é o método mais eficaz de projecção num plano concreto do real do conteúdo abstracto de que são feitos os pensamentos. Por outras palavras, é a racionalização intencional das ideias que habitam a nossa mente, sob uma determinada forma e num determinado contexto. A música, por habitar o domínio do extralinguístico, requer - como outras artes, aliás - um esforço extra de conceptualização e racionalização das suas estruturas e mecanismos, sem o qual a sua compreensão, ainda que porventura sempre parcial, ficará em défice. É por isso que me sinto um privilegiado por manter contacto tão próximo com vários artistas que admiro e por ter a oportunidade de continuar a desenvolver as minhas actividades de divulgação musical, seja através da escrita ou da rádio. Assim, se já andavas por aqui antes desta pausa, as apresentações já estão feitas e espero que continues as desfrutar das leituras e dos podcasts. Se és novo por estas bandas, sê bem-vindo! Espero poder contar com todos para novas e regulares partilhas sobre toda a boa música que por aí anda a pairar.
Novo site
Leitores atentos poderão ter reparado que o site do Beats for Peeps tem um novo design e uma nova organização. O antigo site tinha vários problemas, entre os quais estar hospedado em wordpress.com e utilizar o framework do wordpress para o blog, o que limitava a alteração de várias partes do design, além de não sair nada barato ao final do ano. Por estas razões, decidi programar eu mesmo este novo site, utilizando para isso o framework e gerador de sites estáticos Hugo. O design foi integralmente feito por mim, ainda que me tenha inspirado vagamente na aparência de uma conhecida revista internacional de música (cough cough, Pitchfork, I am looking at you). Resta-me dizer que as vantagens de agora ter controlo absoluto sobre o site são imensas, e o facto de conhecer de trás para a frente e de frente para trás o código fonte vai permitir um contínuo melhoramento quer do design quer das funcionalidades do Beats for Peeps. Estas são excelentes notícias não só para o meu trabalho enquanto gestor e criador dos conteúdos, que fica facilitado, mas também para todos os visitantes que por aqui passam, cuja experiência de leitura espero ter melhorado. Penso que tomei a decisão correcta em adiar o regresso às publicações um par de semanas para concretizar este projecto. À medida que navegarem pelo site, repararão que ainda não está completamente actualizado. Há alguns links e imagens que não estão a funcionar correctamente, mas todos estes problemas serão corrigidos à medida que os for identificando. Peço-vos, por isso, alguma compreensão a este respeito e encorajo-vos a que me reportem todos os problemas que encontrarem para que eu os possa corrigir. Por fim, um muito obrigado ao André Subtil pelas luzes de HTML e CSS, sem as quais criar esta plataforma teria sido muitíssimo mais complicado, e ao Nuno Laranja pelas dicas de design no Figma, essenciais para que a aparência deste site não seja uma autêntica aberração estética.
Cosmofonia: os sons do universo e o universo dos sons
2022 não foi só um ano de mudanças a nível pessoal e profissional. Também o meu trabalho na rádio, que tem sido feito em colaboração com a Rádio RADAR, sofreu algumas alterações. Quem tem acompanhado esta minha vertente sabe que o Beats for Peeps enquanto podcast terminou e que, entretanto, comecei um novo programa chamado Cosmofonia. A decisão de partir para uma nova aventura na rádio foi tomada em total consciência e após meses de ponderação. Aquando desta tomada de decisão, já denotava algum cansaço em relação ao formato do Beats for Peeps e, estando eu a trabalhar em Londres - o que me obrigava a passar diariamente horas e horas em transportes públicos -, a minha motivação e disponibilidade para continuar a fazer um programa semanal de uma hora reduziu-se drasticamente. Muitos dos episódios do Beats for Peeps, além da seleção musical, requeriam várias horas dedicas à escrita dos textos de suporte, sem contar com o tempo de gravação e edição, e frequentemente dei por mim sem tempo livre durante meses seguidos, a trabalhar durante a semana em investigação e a escolher música e a escrever aos fins de semana para a rádio. É certo que quem corre por gosto não cansa, mas penso que a minha vida social e sanidade mental foram afectadas por este período de intenso trabalho, em que cumulativamente ainda me encontrava a fazer cadeiras para uma licenciatura em Filosofia. Por ser apaixonado pela rádio, estava fora de questão afastar-me por completo dos microfones, e a minha solução tentou alcançar um compromisso entre o meu querer e a minha disponibilidade, tendo consistido em criar um programa mais curto, em formato de rúbrica, que não se limitasse ao jazz e à música improvisada, o que facilitaria a selecção musical por abrir espaço para a inclusão de toda a música que ouço, independentemente do género. Para quem nunca ouviu, a sinopse do Cosmofonia é a seguinte: “O universo dos sons e os sons do universo explorados em viagens pelo espaço-tempo. Das abordagens mais experimentais às tendências que definem o ar do tempo, Cosmofonia aventura-se na descoberta das possibilidades da música, sem barreiras estilísticas ou estéticas, em rúbricas que pensam o mundo ao som da sua banda sonora.” Tal como o Beats for Peeps, o Cosmofonia é transmitido na rádio RADAR todos os domingos às 20h00 e repete quinta-feira às 13h00. Para já, o feedback tem sido positivo, mas sinto que o programa ainda tem muito para evoluir em termos de formato e conteúdo. Ironia das ironias? A maior parte dos episódios de Cosmofonia não são rúbricas, têm praticamente uma hora, e muitos têm sido dedicados ao jazz e à música improvisada. Se há casos verdadeiramente incuráveis, certamente que sou um deles.
I’m alive, but… what now?
Agora resta-me esperar que todos os leitores que me acompanharam até ao ano passado o continuem a fazer nesta nova etapa e que muitos mais se juntem pelo caminho. Os meus dois grandes objectivos para este regresso aos trabalhos no Beats for Peeps são publicar com regularidade e, sempre que possível e adequado, fazê-lo em inglês. O foco continuará a ser o jazz, a música improvisada, e todas as sonoridades exploratórias e heterodoxas que habitem nas franjas e nos espaços exteriores da convencionalidade musical.
Por último, deixo aqui uma mensagem a todos os músicos e editoras que me continuaram a enviar música mesmo tendo eu estado parcialmente inactivo nestas lides: obrigado pela paciência e confiança. Agradeço genuinamente a consideração e prometo que, mesmo com atraso, todos os trabalhos terão aqui o espaço que merecem.