
À nossa frente, um Steinway & Sons de cauda repousa paciente, em silêncio, à espera de ser tocado. Sempre que o é, preenche a sala do Turner Sims, em Southamptom, de overtones retirados de uma série harmónica aparentemente infinita. Sabemos que, na prática, esta série encontra-se truncada, mas são tantas as vibrações que produz – e de timbre tão característico – que questionamos se até a mais simples molécula ali presente não lhe responde em ressonância. Em segundo plano, à nossa direita e não menos ávidos por serem tocados, um contrabaixo e uma bateria Gretsch fitam-se com cumplicidade. Em primeiro plano, vários microfones, saxofones, clarinetes – estarão ali os sopros, pensamos, no mesmo instante em que da porta lateral surge o octeto de Zoe Rahman. De sorriso aberto e contagiante, a pianista e compositora britânica apresenta-se vestida com claras referências às suas origens bengali. Seguem-lhe os restantes membros da banda: Gene Calderazzo (bateria), Alec Dankworth (contrabaixo), Rowland Sutherland (flauta e flauta alto), Helena Kay (saxofone alto e clarinete), Mark Armostrong (trompete), Tori Freestone (saxofone tenor) e Rosie Turton (trombone). Prontamente percebemos que esta é uma formação que combina experiência com talento emergente.
A postos para o início da atuação, o octeto surge de fronte a uma parede de tijoleira iluminada a tons azuis-esverdeados, contrastantes com os laranjas e vermelhos que naturalmente dela ressaltam. Uma combinação de cores perfeita, ou não estivesse Zoe Rahman ali para apresentar Color of Sound, o seu novo álbum como líder de banda. Este trabalho será oficialmente lançado no próximo 7 de Julho, sendo um muito aguardado regresso da pianista aos discos. Em 2016, Zoe lançou Dreamland, um notável álbum a solo, e provavelmente o registo em que mais expõe as linhas de raciocínio do seu hábil e intricado pianismo em que música dita clássica e jazz se encontram. Pense-se na síntese que resultaria de um encontro entre Rachmaninoff e McCoy Tyner e não se andará muito longe da expressividade que a pianista natural de Cheshire projeta nas 88 teclas. Contudo, para ouvirmos Zoe Rahman em banda temos de recuar até 2012, pelo que a expectativa de escutar as matizes do novo Color of Sound era grande.
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