
“Flora” ou o verde num deserto imaginado. “Flora” ou a semente enteógena expansora da consciência. “Flora” ou quando o rock psicadélico se cruza com o jazz. Na passada sexta-feira, 5 de janeiro, o guitarrista e compositor Marcelo dos Reis apresentou o seu mais recente projeto no Salão Brazil, em Coimbra. A acompanhá-lo estiveram Miguel Falcão (contrabaixo) e Luís Filipe Silva (bateria), músicos que completam o trio que, em maio do ano transato, se juntou em estúdio para gravar o álbum lançado com selo da JACC Records.
“Flora” é um álbum temperamental, feito de dinâmicas engenhosas, mudanças de direção abruptas e fractais aurais que convidam a introspeções recursivas. E é também um trabalho imensamente enérgico e vigoroso, uma espécie de condensador que gradualmente se carrega para logo libertar toda a potência acumulada num fluxo contínuo de tempestuosidade eletrizante. Não há espaço para silêncios durante a viagem proposta: ou se é hipnotizado em lânguidas meditações com sabores a misticismo oriental ou se zarpa em direção ao olho de um tornado onde ventos riffados e rajadas groovadas propelam o ouvinte para ininterruptos clímax. Pense-se num vórtice colunar que se move em deserto cálido e tudo consome à sua passagem: o ventou leva tudo o que o vento levou. Fatalidade. Mas também apoteose e glorificação e espetacularidade. Para trás, poeira sufocante e areia remexida. Resiste, o trio. E a “Flora”, firme e imperturbável: aqui, cogumelos vermelhos às pintas brancas e de chapéu acastanhado; acolá, capins sedentos e estaladiços, troncos despidos, catos xamânicos. O verde no deserto e a semente que reinicia o ciclo. E lá recomeça novamente o trio a peregrinação rumo a um lugar desconhecido em que a linha do horizonte se une ao infinito da imaginação.
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